𝐀 𝐆𝐥𝐨𝐛𝐚𝐥𝐢𝐳𝐚çã𝐨 𝐒𝐞𝐫𝐢𝐚 𝐈𝐫𝐫𝐞𝐯𝐞𝐫𝐬𝐢𝐯𝐞𝐥?
“A globalização não é um conceito sério, nós americanos a inventamos, para melhor dissimular nossa entrada econômica nos outros países”
John Kenneth Galbraith
Os liberais propugnam que a globalização seria um “fenômeno” irreversível e “necessário” para a modernização e competitividade, na atualidade, para a economia dos países. Oque em absoluto não é verdade. Contudo, antes, é salutar compreender oque é “globalização”, e os efeitos desse fenômeno no mundo e por desiderato nos países submetidos.
A "globalização" é um processo atual, que não se confunde com o livre-mercado, que se inicia com as grandes navegações e atinge seu auge em fins do Séc. XIX.
A internacionalização do capital como forma comercial e de crédito se inicia com as grandes navegações, já a internacionalização do capital produtivo veio ocorrer após a Primeira Revolução Industrial, com a implantação no exterior das filiais das indústrias inglesas acompanhando a divisão internacional do trabalho proposta pela Inglaterra. A consolidação veio ocorrer a partir da Segunda Revolução Industrial com a internacionalização das grandes empresas aprofundada pela concorrência entre as grandes potências. (TAVARES, 1998: 41)
Oque caracteriza a globalização, é a atuação conscientemente política de subjugação dos países periféricos pelos países centros por intermédio do capital financeiro, embora não só, mas determinantemente.
O mercado mundial, vigente a globalização, é atualmente dominado pelas aplicações de curto prazo e se movimentam pelo mundo em busca de lucros rápidos através da mudança nos preços dos ativos. O crescimento na escala de especulação em relação às outras transações é marcante. Em 1971, cerca de 90% das transações estrangeiras visavam financiar o comércio e os investimentos de longo prazo e somente 10% destinavam-se a especulação financeira propriamente. Atualmente, os percentuais se inverteram e cerca de 90% das transações são especulativa e o volume é tão grande que supera as reservas estrangeiras dos componentes do G7.
A pura e simples internacionalização do capital com seu auge no início do século XX, foi muito maior do que na atualidade, e por si só não pode, nem caracteriza o processo de globalização. Nesta época, o mundo inteiro participava de uma civilização mercantil integrada. Por volta de 1913, o comércio internacional representava grande percentual do PIB de vários países da Europa. Dentre estes países encontravam-se a França com 35,4%, a Alemanha 35,1% e o Reino Unido com 44,7%.
"Nessa fase, que vai até ao final da década de 1920, o capital exportado pelas principais potências econômicas européias, tanto em forma de investimentos diretos ou em forma de ações, atingiu níveis percentuais do PIB que não foram ultrapassados até hoje. E foram esses capitais que ajudaram a construir a América do Norte, Argentina, Austrália e África do Sul considerado os “tigres econômicos da Era Vitoriana." (HIRST,1998:101-20)
A guisa de comparação a China, país de plataforma exportadora, em 2006, suas exportações correspondiam a 37% do PIB, enquanto suas importações alcançavam 32% do PIB. Estes valores colocam a China como uma das economias mais abertas do planeta, principalmente se comparada a outros países de dimensão continental, como Brasil, Estados Unidos, Canadá, cujos fluxosZ comerciais (exportações + importações) correspondem a menos de 30% do PIB. Tomando o Brasil, como parâmetro, seu comércio exterior representava 20% do PIB (percentual relativo a 2006).
Ou seja, o Séc. XIX foi a éra do laissez-faire. Seu auge se inicia em 1846, com a revogação da Corn Laws, a Grã-Bretanha deu uma guinada decisiva para o regime unilateral de livre comércio que se conclui na década de 1860. Entre 1860 e 1880, muitos países europeus aboliram substancialmente sua proteção tarifária. Ao mesmo tempo, a maior parte do mundo foi obrigado a praticar o livre comércio por imposição do colonialismo e mesmo países nominalmente independentes como os ibero-americanos por força de tratados desiguais.