4. Oportunidade única: cada vez que a pessoa faz uma coisa errada, perde a oportunidade de fazer algo de bom (que talvez já não possa fazer mais tarde), a bem dizer, algo que desejaria ter feito, mas não conseguiu, pois o mal tomou o lugar do bem.
A liberdade verdadeira consiste em seguir o primeiro impulso bom — algo impossível sem refrear o ímpeto para o mal que, noles volens, nos assedia sempre. O tempo, por sua vez, vale tanto quanto Deus, visto que é no tempo que granjeamos méritos (ou cumulamos delitos) para toda a eternidade.
Uma das piores sensações de ruína (psicológica e moral) no indivíduo reside em perceber que "perde tempo", ou seja, que desperdiça as ocasiões mais propícias para tirar o melhor de si. Algo que repele à nossa natureza, que sempre busca a perfeição no próprio ser, isto é, progredir rumo à realização plena de nossas melhores potencialidades.
O engrandecimento constante da ação humana está em fazer, de forma contínua e crescente, alguma coisa que esteja acima das próprias forças, ao invés de se deixar arrastar por algo que leva ladeira abaixo. A cada um só compraz verdadeiramente aquilo que nos eleva aos próprios olhos. Pelo contrário, aquilo que, pela indignidade intrínseca do ato, nos rebaixa, suscita habitualmente desgosto profundo em nós.
5. Quando a pessoa sente prazer no que é errado, perde o prazer das coisas boas e legítimas. Exemplo: quem gosta de rock encontra real dificuldade para apreciar a boa música; quem é afeito ao uso de palavrões ("A boca fala da abundância do coração"), dificilmente aproveita, em toda a extensão da palavra, a louçania e o viço de uma magnífica obra literária.
Assim também, quem ama o que é impuro, perde o gosto das coisas verdadeiramente prazerosas e que não aparecem eivadas de sujeira. A mente ladina caminha de par com o coração sem mancha. Quem tem o vezo de se entregar ao que é impuro, perde a capacidade de amar verdadeiramente aquilo que é digno de ser amado, pois todo afeto e dedicação verdadeira pressupõe renúncia a si mesmo, amor a Deus e amor ao próximo por amor a Deus.
Ora, numa visão de longo alcance, todo pecado é uma forma de idolatria e de furto: de um lado, consideramos o nosso prazer de momento como um absoluto e, de outro, sonegamos a Deus toda a honra e glória que só a Ele pertencem. O pecado consiste propriamente no seguinte: diante de um bem maior e de um bem menor, preferir este àquele (O homem é incapaz de fazer o mal pelo mal; busca sempre uma “aparência de bem”). Ora, a felicidade só pode provir da busca de um bem maior, em ordem ao Bem Absoluto, que é Deus. 🇻🇦