Notas sobre as Eleições dos EUA
Faltando pouco para o clímax do processo eleitoral estadunidense e para o seu resultado, é possível fazer algumas considerações sobre tudo.
Em primeiro lugar, é impossível prever realmente o resultado com qualquer segurança. As pesquisas de opinião e as apostas têm flutuado mais do que nas eleições anteriores. Se há alguns dias Trump tinha uma vantagem clara e era o favorito, Kamala Harris se aproximou e agora está tecnicamente empatada.
Este é um fenômeno curioso porque mudanças desse tipo usualmente se seguem a escândalos, mas não há nenhum escândalo recente que possa ter atrapalhado a campanha trumpista e alavancado a harrista. Ao mesmo tempo, as entes também não são muito confiáveis nos EUA.
Agora, as eleições parece que serão decididas nos estados do Arizona, Georgia, Michigan, Nevada, North Carolina, Pennsylvania, e Wisconsin.
Esses estados são, tradicionalmente, "swing states". As margens de vitória neles tendem a ser pequenas e às vezes os resultados acabam contrariando as pesquisas de opinião. Trump, por exemplo, estaria por enquanto levando Arizona, Georgia, Nevada, Carolina do Norte e Pensilvânia, mas por margens tão pequenas que caem na margem de erro.
Em segundo lugar, já é uma eleição marcada por fraudes diversas, que vão de ataques e destruição de votos, até dificuldades aparentemente artificiais de votar no candidato da oposição.
Quando se soma isso ao fato de que o país em questão permite voto por correios e não exige identidade para votar, vemos como os EUA possuem um sistema eleitoral muito mais frágil que o da maioria dos países do Terceiro Mundo.
O caráter descentralizado e caótico dessas eleições naturalmente facilita a execução de qualquer tipo de fraude, inclusive as de natureza "legal", como as de 2020, quando, por exemplo, houve uma mobilização para modificar regras eleitorais em estados nos quais a mudança beneficiaria Joe Biden.
Causa espanto que um país com um sistema eleitoral tão frágil e manipulável se coloque na posição de fiscalizar e julgar eleições de outros países.
Em terceiro lugar, a polarização política e a instabilidade tendem a se acirrar independentemente do resultado. Deve-se esperar protestos quem quer que seja o candidato vitorioso. De um modo geral, os campos políticos nos EUA assumiram já posições irreconciliáveis que foram alimentadas pela própria mídia de massa dos EUA, que coloca a disputa Trump-Biden/Harris em termos apocalípticos.
No início do ano, um relatório conjunto das agências de inteligência dos EUA alertava para o risco de atentados terroristas ou violência política em geral antes, durante e após as eleições, e isso é bastante plausível.
Os trumpistas creem que certamente haverá fraude e colocarão a culpa nela por qualquer eventual derrota. E os antifas creem que Trump representa um novo Hitler e não aceitarão um novo governo dele.
Em quarto lugar, no que concerne a posição dos candidatos em relação ao establishment e o Deep State, o contraste é muito menor hoje do que em 2016 ou 2020.
As posições mais especificamente populistas e conservadoras de Trump foram suavizadas em prol de um conservadorismo liberal mais mainstream. Ele até tem apoio de um número menor de grandes empresários hoje do que em 2020, mas hoje desfruta do apoio quase consensual do Partido Republicano - não é mais um "outsider".
Desnecessário dizer que Kamala Harris é a própria encarnação do establishment liberal-cosmopolita. Mas Trump não é sua antítese, e só se choca de forma mais direta com ela em algumas poucas questões
Em quinto lugar, em uma perspectiva geopolítica, é difícil crer que qualquer coisa mudará muito radicalmente em um sentido direto.
Algumas prioridades e diretrizes podem mudar, mas qualquer esforço de mudança do tipo será filtrado pelo Deep State.
Em caso de vitória de Kamala Harris veremos a continuação dos engajamentos atuais, até porque ela própria já é um dos atores que dá as cartas durante esse governo acéfalo de Joe Biden.