Glosando o Mote:
"Morte, juízo, inferno e paraíso".
Em que estado, meu bem, por ti me vejo,
Em que estado infeliz, penoso e duro!
Delido o coração de um fogo impuro,
Meus pesados grilhões adoro e beijo.
Quando te logro mais, mais te desejo;
Quando te encontro mais, mais te procuro;
Quando mo juras mais, menos seguro
Julgo esse doce amor, que adorna o pejo.
Assim passo, assim vivo, assim meus fados Me desarreigam d'alma a paz e o risco, Sendo só meu sustento os meus cuidados;
E, de todo apagada a luz do siso, Esquecem-me (ai de mim!) por teus agrados
Morte, Juízo, Inferno e Paraíso.