Da Divina ProvidΓͺncia, de Lucio Anneo Seneca (CapΓtulo IV):
Na verdade, aqueles que estΓ£o letΓ‘rgicos por excesso de felicidade deveriam ser chamados de infelizes: o que quer que aconteΓ§a com eles serΓ‘ uma novidade. A crueldade oprime ainda mais aqueles que nunca a sofreram; o jugo Γ© pesado atΓ© o pescoΓ§o sensΓvel. Γ suspeita de um ferimento, o jovem empalidece; o veterano olha calmamente para o seu sangue, porque sabe que muitas vezes venceu depois de derramar. Assim, aqueles a quem Deus aprova, a quem Ele ama, Ele endurece, examina e exercita; mas para aqueles outros a quem vocΓͺ parece agradar, a quem parece perdoar, mantenha-os suaves para choques futuros.
Porque vocΓͺ estΓ‘ errado se pensa em alguΓ©m que Γ© exceção. Sua parte tambΓ©m virΓ‘ para quem por tanto tempo foi feliz; o que parece dispensado Γ© apenas adiado. Por que Deus aflige os melhores com doenΓ§as, tristezas e outros infortΓΊnios? Pela mesma razΓ£o que tambΓ©m nos campos as coisas de maior perigo sΓ£o enviadas para os mais fortes; o general envia seus escolhidos para atacar o inimigo com emboscadas noturnas, ou para patrulhar o caminho, ou para expulsar sua guarnição. Nenhum dos que saem diz: "O general me injustiΓ§ou", mas "me julgou bem". Que todos aqueles que sΓ£o ordenados a sofrer coisas pelas quais choram os tΓmidos e os covardes, digam o mesmo: "Parecemos aos deuses dignos de experimentar em nΓ³s o quanto a natureza humana pode sofrer!"