A principal doença do nacionalismo brasileiro contemporâneo é o farisaísmo. Volta e meia aparecem meia dúzia de "podcasters" e "influencers" virtuais irrelevantes que acham que têm o poder de monopolizar o nacionalismo e de controlar que grupos e que lideranças o público nacionalista vai seguir.
Esses fariseus são tristes cosplays do Policarpo Quaresma. Querem ser "os mais nacionalistas" entre todos. Se deixar, trocam o Papai Noel pelo Saci e o português pelo tupi (ou o nheengatu); vão preferir funk a Wagner porque "o funk é nacional", tal como vão preferir literatura pornográfica feminina ("Meu CEO", etc.) a Dostoiévski e defender o PCC e a Igreja Universal entrando na África e no resto da América Ibérica como "autêntico soft power brasileiro".
Em geral, eles vão sacralizar meia dúzia de defuntos mortos há décadas e seus livros de meio século (ou mais), e sibilar com ódio e desprezo contra qualquer leitura contemporânea e, portanto, mais relevante para questões contemporâneas... se ela for estrangeira. Mas isso varia também. Por algum motivo misterioso, pode ler Ha-Joon Chang e Thomas Pikkety, pode bajular Alexander Hamilton e Friedrich List, mas ai de você se o autor que você recomendar for russo. É excomunhão imediata.
Aliás, pouco importa se você recomenda livros russos como apenas uns entre outras recomendações. Para o fariseu policarpista, também misteriosamente (e na minha opinião, só pode ser por algum racismo inconsciente recém-descoberto, como diz o Lucas Leiroz) qualquer coisa vinculada à Rússia é uma mácula e, portanto, o "vínculo russo" apaga qualquer outro interesse, influência ou posicionamento.
Em conteúdo, não têm nada a oferecer além de meia dúzia de lugares-comuns e slogans que todos já conhecem: "o Brasil precisa se reindustrializar", "precisamos de um plano nacional de desenvolvimento", "é necessário investimento público", "o Estado deve proteger a empresa nacional", "o Brasil não deve ter alinhamentos automáticos", etc.
Nada aí está equivocado, mas considerando que ao interagir com um você já interagiu com todos, e que todos os nacionalistas antiliberais, inclusive os que não são fariseus, defendem a mesma coisa, imaginamos se eles não percebem que são como macarronada sem molho e feijoada sem tempero. Não por acaso, apesar de muito esforçados, são figuras estagnadas, sem crescimento, sem alcance, sem conquistas visíveis.
E como não têm conquistas visíveis, nem crescimento, nem alcance, é natural que o ressentimento cresça. Afinal, por que uns crescem tanto, mas eles, autênticos nacional-nacionalistas da nação nacionalizada ficam falando sozinhos? É por isso que eles sempre recorrerão aos espantalhos.
Sem os espantalhos eles não têm como nos atacar. É por isso que apesar de falarmos sobre o Brasil diariamente, e compartilharmos posições sobre questões nacionais diariamente, e fazermos propaganda em defesa dos interesses brasileiros diariamente, agora inclusive em estação de rádio, com muito mais repercussão e alcance do que todos eles somados juntos... eles precisam inventar narrativas delirantes sobre "defendem o interesse russo" e "só falam da Rússia".
São mentiras óbvias, eles sabem que são mentiras óbvias, mas eles não têm alternativa além de mentir, como bons pilantras que são. Só assim poderão tentar dar sobrevida a seus projetos políticos falidos.
Existe aí, também, um elemento de ignorância e daquilo que é um dos piores vícios brasileiros: o orgulho na ignorância. Os fariseus do nacionalismo não sabem nada de geopolítica, não querem saber nada de geopolítica e têm raiva de quem entende algo de geopolítica.
É por isso que fantasiam isolacionismos impossíveis e posições geopolíticas suicidas para o Brasil, ao mesmo tempo que almejam perseguir quem defende para o Brasil o óbvio: nas condições da hegemonia global unipolar, é fundamental apoiar todos os países, movimentos e tendências que enfraqueçam o hegemon como condição necessária para a libertação do próprio povo.
Um texto meu de 2018 (!) no site da Nova Resistência, diz, em um trecho, o seguinte: