Os sionistas, portanto, traçam uma distinção entre o Estado de Israel e a Terra de Israel. A Terra de Israel seria a Terra Prometida, nos termos da Torá. E o Estado de Israel deve ser feito corresponder à Terra de Israel por meio do expansionismo.
Necessário apontar, aliás, que segundo muitos dos sábios que inspiraram o sionismo, como o próprio Maimônides, nenhum estrangeiro poderia ser tolerado na Terra Prometida, e que o mandamento de "Não deixai nenhum cananeu sobreviver" era válido ad perpetuum, de modo que no momento da "restauração", todo estrangeiro dentro dos limites da Terra de Israel teria que ser exterminado, por dever religioso.
Agora pensemos no que isso significa, ademais, se a Terra de Israel for entendida no sentido ampliado, abarcando toda a "herança de Abraão" disposta no Gênese. Por estes termos, a Terra de Israel abarca todo o Líbano até chegar ao sul da Turquia, toda a Síria até o Eufrates, metade do Iraque, toda a Jordânia, o norte da Arábia Saudita e o nordeste do Egito até o Nilo.
Não se pense que essa discussão é puramente teórica e acadêmica.
Essa semana o Jerusalem Post publicou um artigo que explica em detalhes o dever religioso, segundo os sábios religiosos que inspiraram o sionismo, de conquistar o Líbano como parte da Terra Prometida. O artigo, de autoria de Mark Fish, foi apagado, mas ele está salvo em um arquivo virtual.
O artigo apela, por exemplo, ao rabino medieval Ramban para dizer que o Líbano se situa integralmente dentro da Terra de Israel, tornando a sua conquista um imperativo religioso.
O mesmo Mark Fish tem um arquivo também publicado no Jerusalem Post em que ele alega que, nos termos da Torá, Israel não deve obedecer a qualquer regra de conduta militar em relação aos árabes porque eles seriam "imorais" e "piores que os amalequitas" (os quais, aliás, foram genocidados).
O tema esporadicamente reaparece na política israelense também. O Movimento pela Grande Israel foi um partido político fundado nos anos 60 para militar contra a devolução dos territórios conquistados por Israel na Guerra dos Seis Dias. O partido se fundiu nos anos 70 ao Likud, o qual reúne a maior parte dos revisionistas contemporâneos.
Mas não todos. Benzalel Smotrich, que é do Mafdal-RZ e Ministro das Finanças, propaga a ideia de Grande Israel. O mesmo fazem os kahanistas e vários acadêmicos israelenses, para não falar em autoridades religiosas.
Assim, se conciliarmos objetivos de curto prazo com objetivos de longo prazo, perceberemos que o objetivo de Israel seria, inicialmente, 1) o enfraquecimento do Hezbollah e a desestabilização do Líbano; 2) a ocupação parcial do país para criar uma "zona de amortecimento"; 3) a golanização gradual do Líbano, com a expansão da zona-tampão e a colonização das zonas fronteiriças.
Se Israel tiver sucesso em outras frentes, isso eventualmente culminará na anexação total no Líbano. O que pode muito bem acompanhar o assassinato de todos os homens, mulheres, crianças e animais do país, sejam eles muçulmanos ou cristãos, a depender da facção sionista que esteja no controle (os mais "moderados" quererão apenas a expulsão dos cidadãos).